Agents of Influence
Causas, Rotary International

Para além da verdade vs. ficção nos media

A literacia mediática é crucial para sociedades saudáveis. Membros do Rotary estão a ensinar as pessoas a pensar criticamente sobre o que veem e leem.

Por Etelka Lehoczky

O primeiro dia numa nova escola pode ser desorientador para qualquer adolescente. Mas o teu primeiro dia na Virginia Hall High School é ainda mais estranho do que o habitual. O teu avô afirma que foi espião, a tua irmã acusa alguns estudantes de a trancarem num armário, e toda a gente diz que anda um monstro nos corredores.

O que está a acontecer? Será que alguma destas coisas é verdade? Em vez de correres para combater o monstro, lês sobre os estranhos eventos recentes no jornal da escola. Perguntas-te: Estas fontes fornecem várias provas para as suas alegações? Será que estão a ganhar dinheiro por causa do que dizem? As suas histórias retratam de forma negativa as pessoas que discordam delas?

Fazes todas estas perguntas porque, na verdade, estás a jogar um videojogo concebido para aumentar a tua literacia mediática. Co-criado por Anahita Dalmia, membro do Rotary Club de Newport Beach, Califórnia, EUA, o jogo Agents of Influence está a ser desenvolvido para ajudar crianças entre os 11 e os 13 anos a pensar criticamente sobre o que veem nas redes sociais e nas notícias.

“Estamos a ensinar as crianças a compreender o enviesamento mediático, as falácias lógicas e o enviesamento de confirmação. Ensinamos coisas como ler atentamente — ferramentas que podes usar para determinar em quem confiar online”, diz Dalmia, fundadora e CEO da desenvolvedora de jogos Alterea Inc.

Websites de Verificação de Factos

Os especialistas entrevistados para esta história recomendaram vários websites de verificação de factos apartidários. Aqui estão alguns:

  • PolitiFact, um site premiado com o Prémio Pulitzer, gerido pelo Poynter Institute, uma escola sem fins lucrativos para jornalistas.
  • Full Fact, um site de verificação de factos sediado em Londres, Inglaterra.
  • Snopes, uma fonte de informação sobre lendas urbanas e rumores online desde 1994.
  • FactCheck.org, um projeto sem fins lucrativos do Annenberg Policy Center da Universidade da Pensilvânia, EUA.

Dalmia, uma rotária de terceira geração, diz que a abordagem do jogo foi parcialmente inspirada pela Prova Quádrupla do Rotary.

“A primeira pergunta é: ‘É a verdade?’ E há uma razão para essa ser a primeira pergunta”, diz Dalmia. “Se não for a verdade, não se pode fazer um julgamento sólido com base em qualquer uma das outras perguntas, porque estás a começar com uma fundação instável.”

“Uma fundação instável” é uma forma de descrever o atual panorama mediático. Os especialistas dizem que estamos expostos a muito mais media do que nunca. Isso inclui tanto desinformação (inverdades intencionais) quanto desinformação (falsidades deliberadas destinadas a enganar as pessoas). Embora muitos meios de comunicação sejam responsáveis e credíveis, descobrir em que acreditar pode exigir tempo e esforço.

“Antes da internet, se eu fosse comprar um jornal, ele seria redigido por jornalistas para quem a verdade era um padrão importante. Claro que os jornais eram enviesados. Mas hoje, as pessoas que querem acreditar em certas coisas simplesmente publicam essas coisas”, diz Alan Dennis, professor de Sistemas para Internet na Universidade de Indiana, Estados Unidos.

“Há campanhas ativas de desinformação por parte de governos estrangeiros destinadas a influenciar eleitores em países democráticos. Os atores tornaram-se muito mais sofisticados e aprenderam bastante sobre que tipo de mensagens funcionam.”

As pessoas estão cientes deste problema e dizem que querem tornar-se mais experientes em relação aos media que consomem. Um estudo divulgado este ano descobriu que cerca de sete em cada 10 americanos estavam interessados em aprender a distinguir melhor entre informações verdadeiras e falsas online. Mas a literacia mediática é mais do que simplesmente separar factos de ficção.

“Precisamos de ser capazes de julgar coisas como, ‘Qual é o enviesamento por trás disto? Quem criou isto? Quem está a beneficiar com isto?’ Portanto, não há aqui uma solução simples”, diz Jeff Share, professor da Universidade da Califórnia, Los Angeles, e coautor de The Critical Media Literacy Guide. “Precisamos de abrandar e investigar. Isso pode significar que vou demorar mais alguns minutos, mas posso consultar outras fontes. Posso também reconhecer que algumas são mais legítimas do que outras.”

Desenvolvedora de videojogos Anahita Dalmia na Convenção do Rotary Internacional de 2022 em Houston.

Formar contadores de histórias

Muitas pessoas acreditam que enviesamentos ideológicos e interesses financeiros orientam a cobertura de grandes meios de comunicação, diz Alex Freeman, bolseiro que estuda no Mestrado em Comunicação e Media Globais na London School of Economics and Political Science.

“É uma das grandes razões pelas quais as pessoas se voltaram contra os media, mas acho que é uma sobrecorreção”, diz Freeman. “Muitas pessoas recorreram a jornalistas independentes que estão mais dispostos a incorporar a sua própria experiência pessoal nas reportagens. Mas, sem um aparato mediático tradicional — sem práticas padrão para garantir a precisão — é difícil saber em quem confiar.”

Ainda assim, vozes independentes podem ser cruciais em lugares onde as organizações mediáticas carecem de financiamento ou estão restringidas por governos repressivos. Quando o Bolseiro Rotary pela Paz Thomas Sithole percebeu que a sua cidade natal no Zimbabué era ignorada pelos principais meios de comunicação, lançou uma estação de rádio comunitária. Depois, fundou o Centro Zimbabuano para a Literacia Mediática e Informativa como um meio de ensinar as pessoas a pensar de forma mais crítica e a contar as suas próprias histórias de forma eficaz. Thomas acredita que as duas competências estão interligadas.

“Ensinamos os cidadãos a protegerem-se contra a desinformação e a informação falsa”, afirma. O Centro também forma jornalistas cidadãos e outros criadores de conteúdo, ao ensinar competências como verificação de factos e garantir o equilíbrio numa história.

“Estamos a tentar construir um movimento em toda a região, porque vemos que não há apetite por parte dos nossos governos para promover políticas que apoiem a literacia mediática e informativa entre os cidadãos”, diz Sithole.

A ameaça da inteligência artificial

Mesmo enquanto treina um exército de contadores de histórias, Sithole preocupa-se com o facto de a chegada da inteligência artificial tornar mais fácil criar e disseminar desinformação.

“Para os cidadãos desprevenidos, está a criar muitos desafios”, diz. “Torna-se agora muito difícil distinguir se um conteúdo é verdadeiro ou falso, principalmente se estiver na forma de vídeos ou imagens. É algo que representa realmente um desafio até para os jornalistas profissionais.”

Alguns acreditam que a chave está em educar os consumidores de media mais jovens. Erin McNeill encontra muitos estudantes através do seu trabalho como CEO da Media Literacy Now, uma organização sem fins lucrativos sediada nos EUA, e sente-se encorajada com o que descobre. “A IA está definitivamente a tornar mais difícil identificar fontes boas e credíveis”, afirma McNeill, mas afirma que as pessoas podem usar as mesmas competências para analisar conteúdos gerados por humanos e por IA.

“Os jovens são tão criativos e inteligentes. Estamos a educá-los para que possam enfrentar o desafio”, diz. “Eles conseguem encontrar soluções, desde que lhes sejam dadas as competências e a educação de que necessitam.”

A mesma crença anima Dalmia à medida que continua a desenvolver e a promover Agents of Influence. Já apresentou o jogo a vários Rotary Clubs e espera que os rotários incentivem as escolas locais a usá-lo. “Isto começou como um projeto de paixão, mas havia uma enorme procura por parte dos pais que estavam preocupados com a forma como as redes sociais estavam a moldar as perspetivas e interações dos seus filhos com o mundo exterior”, diz Dalmia. “As reação esmagadora que recebemos foi: ‘Posso ter isto para o meu filho, que pensa que o TikTok é uma fonte credível de informação?’”

Conheça o trabalho do Rotary para apoiar a educação e promover a paz.

Traduzido de Beyond truth vs. fiction in the media, em Rotary International