Universidades Seniores de Rotary, um projeto extraordinário que nasceu no Distrito 1970 há 26 anos

Por Emília de Lurdes Nogueira *

Falar das Universidades Seniores de Rotary é falar de um projeto extraordinário que nasceu no Distrito 1970 há 26 anos, na pequena cidade transmontana de Chaves, pequena embora pela dimensão mas muito grande pelo legado cultural que herdou e que, talvez por isso tenha sido o berço desta grandiosa ideia que viria a tornar-se, e perdoem-me se estou errada, um dos maiores projetos rotários dos clubes do Distrito, que conta atualmente com 25 Universidades em funcionamento e várias outras a desenvolver a sua criação.

À primeira Universidade, criada em Chaves, foi dado um nome carismático e muito abrangente, talvez mais do que o nome dado atualmente; chamou-se USAF – Universidade Sénior e do Autodidata Flaviense. Mais tarde, com a replicação do projeto no Distrito e com o apoio da Governadoria, optou-se por uma designação geral, daí ter surgido a Universidade Sénior de Rotary de… consoante a localidade do clube que a apadrinhou. É curioso, contudo, salientar que no caso de Chaves, o nome USAF é ainda icónico do projeto que o Rotary Club criou.

É talvez interessante refletir sobre a etimologia da palavra “universidade” que provém do latim ‘universitate’ e que remete para “universalidade, totalidade, conjunto, comunidade”, entre outros. Na verdade, este conceito adequa-se perfeitamente ao que diariamente se faz num espaço onde os menos jovens se encontram e, em conjunto, levam a cabo trabalhos extraordinários e onde, em comunidade, combatem muitas vezes a solidão que os assola nas suas casas.

Nas Universidades Seniores de Rotary são veiculados os valores rotários tais como criar a boa vontade no mundo e em cada um dos alunos, através do trabalho cooperativo e do diálogo. A solidariedade é também um pilar sempre presente quando, por exemplo, face a necessidades detetadas na comunidade os alunos respondem SIM e cooperam com o seu trabalho para minorar essas necessidades, porém fazendo-o sempre eticamente. Humanismo e cooperação são, pois, palavras chave no dicionário das Universidades Seniores de Rotary.

Naturalmente que nas Universidades Seniores também se transmite saberes. E digo transmite, porque se há professores que ensinam há também alunos que muito ensinam, quando expressam os seus saberes adquiridos empiricamente ou, quantas vezes!, pelas vivências. E que vivências!

Cada vez mais na nossa sociedade se valoriza a aprendizagem ao longo da vida e nas Universidades Seniores é o que acontece com o ensino de Línguas, História Geral e História do Património Local, por exemplo. Também se promove a literacia de uma forma geral: interpretar a mensagem literária, entender os fluxos económicos de que ouvimos falar nos noticiários, perceber como atua a justiça e compreender as demoras de que também se fala na comunicação social.

Mas há mais, muito mais! Nas Universidades Seniores por vezes descobrem-se talentos desconhecidos, como, por exemplo, para a Pintura, Escultura ou Cerâmica. Pessoas que nunca tinham pegado num instrumento musical descobrem que até “têm jeito para a Música” e integram uma Tuna. E até cantam!

E Poesia? E Teatro? Por acaso já alguém pensou que os alunos não só dizem poesia, isto porque há Universidades, por exemplo na de Chaves, onde há Grupos de Jograis, mas também há alunos Poetas?

Por acaso alguém sabe que os alunos não só representam, nas Universidades onde há a área de Teatro, mas também escrevem os textos, como aconteceu, por exemplo, mais uma vez em Chaves, onde depois de terem estudado Gil Vicente os alunos atualizaram o Auto da Barca do Inferno com personagens-tipo da sociedade atual, naturalmente, e ao qual chamaram Auto do Autocarro do Inferno?

Nesta breve reflexão cumpre ainda salientar o benefício que as Universidades Seniores têm a nível da prevenção da saúde mental. E não só dos menos jovens que as frequentam como alunos, mas também dos professores. Um dia destes, uma professora exclamou com muita alegria que dar aulas na Universidade Sénior era “lavar a alma”.

Mais palavras para quê? Ser voluntário numa Universidade Sénior de Rotary é, como disse a colega: “lavar a alma”!

* Presidente da Comissão Distrital das Universidades Seniores, Presidente do Rotary Club de Chaves, Diretora da Universidade Sénior de Rotary de Chaves

Imagem principal: Alunas da Universidade Sénior de Rotary da Trofa atuam no Magusto de Bougado (Imagem: Universidade Sénior de Rotary da Trofa).